Bruno,
o ex-goleiro, será condenado? Na minha opinião ele foi condenado
desde o desaparecimento de Eliza Samúdio.
A
Constituição brasileira diz que todo cidadão tem direito a “ampla
defesa” e ao “contraditório”. Isto, é, tem o direito de usar
todo e qualquer artifício em sua defesa. Não acho que Bruno tenha
usado bem esse direito. A defesa, na minha opinião, começou errada,
desde início. Primeiro grande erro: os réus (Bruno, Macarrão e
Bola) tinham o mesmo advogado, Ércio Quaresma. Ora, era óbvio que
os interesses eram divergentes ou em algum momento se tornariam. Para
piorar, Ércio Quaresma foi flagrado fumando craque e admitiu o vício
na droga, como vemos abaixo. Bruno e Macarrão trocaram de advogado.
Quaresma passou a defender somente Bola. Segunda falha: o
adolescente, primo de Bruno e principal testemunha do caso, deveria
ser desqualificada. A própria mãe admitiu que o menor era viciado
em drogas e já havia até realizados pequenos delitos para sustentar
o vício.
Não
quero defender Bruno, Macarrão ou qualquer outra pessoa. Meu
objetivo é analisar o caso e as diferenças da Justiça. Já dizia o
samba-enredo da Vila Isabel, de 1989, “A Justiça é cega, mas
enxerga quando quer. Já está na hora de assumir”. Já passou da
hora.
Reafirmo,
independente do resultado do julgamento, que Bruno já foi condenado,
muito antes de ser julgado. Isso é inadmissível.
Analisemos:
Por que os réus foram mantidos presos até o julgamento se tinham
endereço fixo, emprego, não atrapalhariam as investigações e não
representariam perigo à sociedade? Por que a defesa não teve acesso
aos autos? Por que foram acusados, desde o início, de assassinato se
o corpo nunca fora encontrado? Havia materialidade desde o início?
Não, pois não havia corpo. A materialidade só pode ser avaliada
tempos depois, com depoimentos, testemunhos e investigação. Então
por que ficaram presos desde o início? Respondo: porque era o Bruno,
goleiro do Flamengo. Personagem conhecido da mídia. A Justiça
enxerga sim. Se fosse uma pessoa comum, muito provavelmente,
esperaria o julgamento em liberdade. Talvez até fosse preso durante
a investigação, mas não desde o início.
Eles
ficaram presos para que a Justiça não fosse exposta a um escracho
público. Para que a sociedade não se voltasse contra a instituição.
Para preservar a imagem da Justiça perante a sociedade. Isso é
justo? Uma pessoa pública tem que ser julgada diferentemente de uma
pessoa comum? Então há distinção entre cidadãos? Acho que todos
têm que ser julgados igualmente para que se exponha a realidade dos
processos. Caso os réus conseguissem responder em liberdade como
acredito que qualquer cidadão conseguiria, esse fato viria a tona e
a sociedade poderia discutir o sistema. Se alguma coisa está errada
é o sistema. Esse deve ser debatido. O que aconteceu foi que a
Justiça encobriu o que ocorre normalmente, mandando os réus pra
cadeia, desde o início. Com isso, a sociedade teve a sensação
errada de que está tudo certo com a Justiça brasileira. “Temos
Justiça”. Ora, não se iludam. O sistema é falho e erra muito.
Conheço
casos de gente que ficou presa quando deveria estar solta e de gente
solta que deveria estar presa. Uma mulher ficou presa 3 meses por
roubar uma margarina em um mercado. Em outro caso, um detento ficou
preso quase 3 anos depois da data que deveria estar solto. Porque não
tinha dinheiro para pagar um advogado e porque a defensoria pública
não agiu para libertar o homem. E quantos estão hoje na cadeia, mas
já deveriam estar nas ruas? Quantos estão na rua e deveriam estar
presos? Quantos mandados de prisão expedidos existem para serem
cumpridos, mas os condenados estão por aí?
Quero
chamar a atenção para a bagunça, o descaso. Nós também somos
culpados por isso. Por não cobrar e por termos a memória curta.
Querem ver? Vou citar alguns nomes aqui. Vocês vão se lembrar da
maioria deles, mas não devem se lembrar o que eles fizeram e muito
menos o que acontece com eles hoje. Vamos lá:
Alexandre
Nardone; Luiz Estevão, Paula Thomaz, Nicolau dos Santos Neto,
Georgete dos Santos, Marcos Valério, Hildebrando Pascoal, Sérgio
Naya, Guilherme de Pádoa, e tantos outros. Vocês certamente se
lembraram de vários outros nomes que foram destaque por escândalos
e crimes, mas não sabem o que aconteceu. Qual foi o fim. Se não
está na mídia, ninguém fala, então cai no esquecimento. É o
quarto poder. A mídia pode não conduzir sua opinião sobre um
fato, mas com certeza determina quais fatos serão analisados. Não
comanda como você pensa, mas impõe sobre o que você vai pensar. E
a culpa é nossa que deixamos acontecer isso por preguiça, por falta
de tempo, por inércia.
Voltemos
ao caso. O caso Bruno foi conduzido para servir de exemplo. Assim
como faziam na antiguidade executando ladrões em praça pública
para que o povo temesse a “justiça real”.
Vejam
bem, ele já confessou, no julgamento, que sabia que Eliza havia sido
morta, segundo ele, a mando de Macarrão. Ele tem relativa culpa. Ele
deve ser punido por esse crime bárbaro. O que discuto é se deve ser
diferente de qualquer cidadão comum. Sendo assim, a Justiça vai
vedar as mazelas da instituição e por clamor do próprio povo. A
própria sociedade está pedindo para ser enganada.
As
sociedades têm necessidade de ser enganadas. Vejamos a Venezuela.
Chavez passou a vida pregando contra o 'imperialismo americano'.
Contra o capitalismo. Pois bem, 40% do petróleo venezuelano é vendido
para os Estados Unidos, além de serem o país que mais vende
produtos para a Venezuela. Então, a economia da Venezuela depende
dos Estados Unidos. Eles criticam o que lhes dá comida. Hipocrisia,
populismo barato e o povo compra como discurso revolucionário.
A
nossa sociedade, mesmo sabendo que não é o tratamento normal, se
sente satisfeita porque “pelo menos nesse caso foi feita justiça”.
Desculpem, mas pra mim é muito pouco, além de não ser justo. A
Justiça de verdade é igualitária. Não faz distinção. Se
admitirmos que haja diferença nos julgamentos por esse motivo,
teremos que aceitar outras distinções. Se é famoso tem julgamento
diferente? Pode ser que alguém ache que um rico tenha que ter um
tratamento diferenciado. Ou um político, Ou um homossexual Ou um
negro. Ou um religioso, etc. Então achamos certo um famoso ser
julgado diferente, mas um político não pode? Por que? Um milionário
não pode? Por que? A Justiça deve ser uma só. Para TODOS. Se não
estiver bom, então discutiremos o sistema, as leis.
Aproveitemos
para pensar sobre as coisas e tentar enxergar além do que a notícia
nos trás. A notícia é fria. É o fato. Temos que ter uma visão
maior, discutir e não esquecer do que passou. Um povo sem memória é
uma sociedade entregue aos que as fazem esquecer.
Então,
tá. Até a próxima.
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Bom texto. Abraços.
ResponderExcluirObrigado, Danielle. Também gosto dos seus. Bj
ResponderExcluirTu é flamenguista. não conta seu pilantra!
ResponderExcluirAbs
Jorge Esquerdo
Abç., Jorge.
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